Almejamos neste blog colectivo revelar Cabo Verde para além do horizonte da bolha chamada “all-inclusive resorts” e debater uma proposta de turismo apoiado nas características únicas ao caboverdiano, o nosso património cultural e a diversidade ecológica do arquipélago.

Missão: Descobrir as ilhas de Cabo Verde, a sua gente, musica, dança, tradições e vivenciar a morabeza criola.

terça-feira, dezembro 13, 2011

Descobrindo a caboverdianidade

Nos meus tempos de estudante no Brasil, eu era constantemente confrontado com duas perguntas:
-De onde és? - Cabo Verde.
-Onde fica? - Fica... na África... mais ou menos... no oceano atlântico... perto da ilhas canárias... "tubeteava".
Num primeiro momento o meu sentimento foi de estranheza e incredulidade.
Seria  possível que eu  tinha vergonha de ser africano?
"Abö é preto móss!" pensava.
Mas não  me sentia africano e muito menos europeu.
Qual era então a minha identidade?...O que dizem os historiadores?

Luís M. de Sousa Peixeira nos diz que em razão das condições adversas os escravos e os colonos  não podiam sobreviver independente um do outro. Estavam enfiados no mesmo barco e a sua sobrevivência dependia desta união. Esta convivência forçada, segundo Peixeira, deu origem á mestiçagem e forjou um sentimento de lealdade que, aliado a uma cultura partilhada, produziu uma nova identidade, a  caboverdianidade.

Gabriel Mariano reitera que em Cabo Verde a mestiçagem cessou os vínculos étnicos com as terras distantes e nos  proporcionou uma qualidade singular - "O mestiço estaria impregnado de uma vocação de quebrar a rigidez e a agressividade dos ritos de convívio social."

Tínhamos conseguido (para poder sobreviver) conciliar a  diversidade de elementos étnico-culturais, aparentemente conflitantes, numa única categoria, a cultura cabo verdiana.

O Prof. Artur M. Bento resume:
 "A identidade cabo verdiana é produto de reelaborações das diversas identidades em contacto e, por isso, não há entre os cabo verdianos a reivindicação de uma raiz étnica, mas sim, a afirmação de valores colectivos(...) Cabo Verde deixa de ser uma prisão de escravos e refugio de brancos degradados para se constituir na nova pátria".

Eu devia lealdade, não aos africanos e tampouco aos europeus, mas sim, a esta nova pátria, a Cabo Verde. Eu era o produto "bem sucedido" do encontro do português com o africano, eu era um  claridoso.

Escusado dizer que esta minha "redescoberta" não se traduziu numa melhor transmissão da minha origem aos brasileiros. O que me levou a adoptar uma resposta padrão.

- De onde és? - Sou africano
- De onde na África? - Cabo Verde



Nuno Kaunda


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