segunda-feira, janeiro 09, 2012

Exemplos a (não) seguir

Quando somos meninos, os nossos pais têm a obrigação de nos fazer ver e mostrar que há formas de vida e de vivência que não são exemplos a seguir por ninguém. Também devem nos ensinar quais os bons exemplos. Assim se faz uma boa educação parental, entre outros ensinamentos, para que em adultos sejamos pessoas bem formadas e de valores.
Esta ideia moralizadora vem a propósito do que Cabo Verde e as entidades que supervisionam o investimento externo, sobretudo na área do Turismo, podem aprender com os maus exemplos que proliferam por esse mundo fora no que toca a um desenvolvimento sustentável deste sector tão crucial como frágil para o futuro do nosso País. Há por esse mundo fora muitos exemplos, maus exemplos, e até bons exemplos de recuperação, após más políticas do passado.
O exemplo que nos pode ensinar vem de ilhas, bem mais avançadas nesta indústria do Turismo, aliás com várias décadas de experiência e bem perto de nós. O caso do arquipélago da Madeira, as duas ilhas habitadas (Madeira e Porto Santo) e os dois grupos de pequenas ilhas, denominadas Desertas e Selvagens.
Os bons exemplos que as autoridades madeirenses deram no passado já têm ‘barbas’ e estão bem cimentadas, nomeadamente na protecção dos frágeis ecossistemas das Ilhas Desertas e das Ilhas Selvagens. São raros os visitantes, há sempre vigilantes da natureza ali posicionados e a monitorização das espécies endémicas é constante. São autênticos santuários naturais, desde sempre alvo de cobiça, até hoje a salvo a muito custo.
Também nas duas ilhas habitadas trabalha-se muito na tentativa de deixar ao máximo algum território fora do alcance da civilização. Mas, como é óbvio, torna-se muito mais difícil, sobretudo porque o Turismo é a principal fonte de receita de um arquipélago que pouco mais tem a oferecer aos visitantes que a sua beleza natural.
A verdade é que para beneficiar do Turismo é preciso investir em infra-estruturas rodoviárias, portuárias e aeronáuticas, é preciso depois erigir unidades de turismo para receber condignamente os visitantes e se forem em grande número, mais unidades e cada vez maiores serão necessárias para os albergar. Aí é que reside o erro de muitos políticos e políticas (ou falta delas) de desenvolvimento sustentável.
Em muitos territórios, de facto, não faltam exemplos muito maus, dramáticos hoje, trágicos para o futuro. Constrói-se com expectativas demasiado altas, o dinheiro abunda quando é preciso construir em grande e, muitas vezes, fecha-se os olhos aos estudos de impacte ambiental.
Ora, olhando o exemplo da Madeira e do Porto Santo, em 2008, ano em que o Turismo ainda estava em crescendo de optimismo e os investimentos continuavam em grande, havia 331 empreendimentos, esperava-se alcançar as 32.869 camas (quase mais 3 mil que em 2007) e bem perto de alcançar o ‘limite’ previsto no Plano de Ordenamento Turístico (POT) de 35 mil camas em toda o arquipélago. Um sector que, na altura e ainda hoje, representava 20 a 40 por cento do Produto Interno Bruto da Madeira e dava trabalho directo a 15 por cento dos madeirenses, cerca de 6.618 funcionários.
Passaram-se três anos e tudo mudou, há obras paradas, há novos hotéis à espera de ‘bons ventos’ e outros que deveriam ser remodelados e estão fechados, as receitas baixam, o número de turistas também, gastos e tempo de estadia idem, as empresas que estão à volta deste sector passam um mau bocado e, pior, os trabalhadores começam a sentir na pele o problema, com salários em atraso e desemprego. E tudo isto porquê?
Porque planeou-se e executou-se, mas como se diz no ditado popular houve “mais olhos que barriga”. A Madeira tem uma imagem de “natureza, clima, beleza, cultura, segurança e hospitalidade”. Mesmo assim, os factores externos e internos motivam a um repensar e reformular dos objectivos.
Resta dizer que, estando Cabo Verde ainda com uma indústria do Turismo a crescer, com as massas cada vez mais interessadas, dever-se-á olhar para os outros e não “ir com muita sede ao pote”. Enquanto é tempo de aprender e não errar.

Francisco Cardoso

2 comments:

Ludmila disse...

Caro Sr. Francisco Cardoso, realmente é uma ilusão pensar que para oferecer um turismo de qualidade aos turistas, é preciso investir em grandes infra-estruturas, construir grandes hoteis e por aí adiante. O que precisa mais aos responsáveis do turismo, entidades, operadores turisticos, entre outros, é a responsabilidade social, pensar nas populações que recebem os turistas, pensar no meio ambiente, respeitar a cultura e equilibrio em todos os níveis. Adorei a sua reflexão

Unknown disse...

É uma questão de politica sem duvida. O que queremos do turismo e como a actividade se enquadra no todo da actividade economica. Sem prescindir das formas lineares de desenvolvimento da actividade turisitica, o eco-turismo é uma abordagem que a ser implementado na practica abre um mercado mais apeticivel que pode arrastar o desenvolvimento da economia local. Além de n repetir os erros dos outros eu diria que precisamos apreender com os outros. Costa Rica, Belize e outros pequenos territorios com praticas e politicas integradas de desenvolvimento são exemplos a seguir.

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