Almejamos neste blog colectivo revelar Cabo Verde para além do horizonte da bolha chamada “all-inclusive resorts” e debater uma proposta de turismo apoiado nas características únicas ao caboverdiano, o nosso património cultural e a diversidade ecológica do arquipélago.

Missão: Descobrir as ilhas de Cabo Verde, a sua gente, musica, dança, tradições e vivenciar a morabeza criola.
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terça-feira, abril 10, 2012

Turismo, um ‘petróleo’ que pode sair caro


Julgo ter sido o actual primeiro-ministro de Cabo Verde que disse que "o turismo é o nosso petróleo". Esta frase que, não sendo original, encerra a importância que o turismo tem para o desenvolvimento do País, na verdade, vendo de fora e de longe,  esta ‘fortuna’ da sorte, pela bênção da Mãe Natureza, nos pode sair caro, caso não aprendamos com os erros dos outros.
É um tema que me desassossega, não obstante olhar Cabo Verde do exterior e não vivenciando o dia-a-dia do trabalho que é feito por todos os agentes de Turismo. Nos últimos anos só se houve falar de grandes unidades hoteleiras, resorts com tudo incluído , grande destaque nos Media internacionais (portugueses sobretudo) onde o nome Cabo Verde surge consecutivamente entre os preferidos dos turistas, seja no Verão ou seja na Páscoa e até, imagine-se, nas viagens de Fim-de-Ano e Carnaval, aumentos percentuais muito promissores de entradas, estadias e dormidas de turistas no nosso país. São tudo coisas boas, tudo notícias pela positiva, até o dia...
Esse dia em que os Media vão acordar e apontar agulhas não à beleza das praias, ao clima sempre ameno, à Morabeza do povo e à sua Cultura tão característica e cativante. Mas sim, ao impacto que todo este desenvolvimento (sobretudo dos grandes hotéis à beira-mar) tem tido ou não tem tido na qualidade destas ilhas(por hoje ainda um paraíso) e do bem-estar da sua gente. É que, de facto, temos nestas quatro vertentes o nosso ‘petróleo’. Por enquanto, e essa é a melhor notícia, fala-se pouco ou nada do mau desenvolvimento, aliás do fraco impacto que o ‘boom’ do Turismo tem tido junto de grande parte da população.
Podem dizer que não, mas é uma realidade. Promove-se Cabo Verde por que características?! Sol e praia, povo e música?! Ou há mais por explorar?! É possível que até se faça mais que isso e acredito que sim. Mas olhando para um simples guia turístico de Cabo Verde, editado por uma empresa nacional  para 2010 e as “10 Boas razões para conhecer Cabo Verde”, estavam lá todas estas características resumidas em 10 frases simplórias. As primeiras sete falavam do clima e de tudo o que se pode fazer num país com “Verão todo o ano”, ou seja praia e sol. As duas seguintes falavam da Cultura (musical e gastronómica) e a última (para mim, a mais importante para potenciar o Turismo) é a tal de Morabeza. É óbvio que o guia tinha muito mais para ler, ver e conhecer. Ainda ontem, 9 de Abril, li uma notícia em A Semana, de mais um guia escrito curiosamente por uma jornalista e, pelo que li, a ‘receita’ (sol e praia, cultura e morabeza) é a mesma. É sempre a mesma.
Percebo, porque tenho algumas noções de Comunicação e Marketing, as razões das acções de promoção nos mercados externos, sobretudo aqueles que são os principais emissores de turistas ou aqueles que, potencialmente, poderão vir a desempenhar um papel importante no crescimento da procura. Segundo as últimas estatísticas (www.ine.cv), tanto em entrada de hóspedes nas unidades hoteleiras (475.294) como de dormidas (2.827.562), registaram-se aumentos em 2011 face a 2010 de 24,5% e 20,7%, respectivamente. Extraordinário aumento, pois são poucos os destinos nas imediações do nosso arquipélago que podem apresentar números tão bons, dada a crise que impera na Europa, o principal mercado emissor.
Dou dois exemplos próximos para mostrar o quanto o nosso ‘petróleo’ está ainda (e espera-se melhor) pouco explorado. Madeira teve em 2011 mais de 896 mil hóspedes entrados para mais de 5,5 milhões de dormidas. Canárias, cujas estatísticas mais recentes que encontrei reportam-se até Agosto de 2011, tinham mais de 1,8 milhões só em entradas de turistas e mais de 11 milhões de dormidas. Curiosamente, estes dois destinos têm nos britânicos e alemães o seu principal mercado, exactamente os que Cabo Verde tem apostado, e tiveram aumentos de 6,6 e 5% respectivamente face a 2010.
Até quando estes números continuarão a ser favoráveis, sabendo-se que Madeira e Canárias estão a léguas no (muitas vezes mau) desenvolvimento turístico?! Fica a questão para aprendermos a procurar outras formas de desenvolvimento e não secarmos o nosso ‘petróleo’. Se a aposta for errada, poderá sair muito caro face às consequências que podem daí advir.

quinta-feira, março 08, 2012

Preservação artificial ou natural?

Estava à procura de um tema para postar no blog e, na linha das anteriores, optei por tentar perceber duas realidades similares (ilhas) e projectos com objectivos iguais (preservar a natureza), mas com um amadurecimento, aparentemente, sem nada que se lhes compare. Tal como em Cabo Verde, na Madeira também se projecta a protecção da fauna e da flora, enfim, dos espaços naturais, com legislação, regras e acções muito fortes, com vista a proteger o que é natural, mas a meu ver de uma forma artificial.
Este artificial é mais no sentido de que, em sociedades realmente humanistas e naturalistas (algo que a Humanidade ainda não conseguiu), não deveria ser preciso tanta protecção para o que nós todos deveríamos preservar de forma natural. Mas adiante, que isso é utopia. Portanto, impossível nas próximas gerações.
No caso das ilhas na foto, a Reserva Natural das Ilhas Selvagens, situada bem a sul do arquipélago da Madeira (aliás, mais perto geograficamente de Canárias), esta foi criada em 1971, sendo uma das zonas protegidas mais antigas de Portugal e, por sinal, um exemplo no que toca à preservação das espécies, sobretudo das aves marinhas. Um exemplo e um alvo constante de cobiça de 'amantes' da vida selvagem, que constantemente a procuram para passeios, caça, pesca e tudo o mais que uma lancha/iate consiga alcançar. Apesar de tudo, nestes mais de 40 anos de protecção artificial de um santuário natural, o saldo pode ser considerado positivo.
Mais perto, nas ilhas Desertas, também reserva natural, protegida sobretudo pelos Lobos Marinhos, mamíferos marinhos que desde 1990 têm merecido atenção redobrada e, com sucesso, denota-se hoje, 21 anos depois, uma recuperação desta espécie num dos únicos redutos no mundo onde é possível encontrá-los. O feito é ainda maior porque, aquelas três ilhotas estão a poucas milhas (à vista) da ilha da Madeira e, portanto, alvo de muita atenção sobre um tão frágil ecossistema.
Por fim, o Parque Natural da Madeira, completa este ano 30 anos (1982) da sua criação e pretendeu proteger, por decreto, imagine-se 2/3 de toda a ilha... A Madeira tem mais três 'mini' parques naturais (uma delas a única em Portugal exclusivamente marítima), a rede de áreas marinhas protegidas da ilha do Porto Santo e, ainda, a grande Floresta Laurissilva, património natural da UNESCO. Tudo trabalho de décadas (www.pnm.pt) e que tem merecido elogios e reparos, erros e omissões, atentados e punições, mas sobretudo, deu muita visibilidade pública a sítios que antes eram desconhecidos. Quiçá ficassem na incógnita, talvez estivessem melhor protegidos...só que isso, hoje, é difícil de quantificar e avaliar.
No caso de Cabo Verde, a protecção por decreto das áreas sensíveis do ecossistema, surge bem mais tarde e, seguramente, está muito mais atrasada no tempo. Mas, pessoalmente, entendo termos muito mais condições de base para proteger as várias áreas sensíveis englobadas na Rede Nacional de Áreas Protegidas (criada em 2003), uma vez que hoje sabemos muito mais e podemos agir muito mais rapidamente, sobretudo tomando os maus e bons exemplos dos outros para melhor actuar.
Confesso que desconhecia alguns desses sítios e espécies abrangidas nos parques e reservas naturais de Cabo Verde. Mas, das que conhecia, a maioria, sempre as apreciei, admirei e amei como uma bênção. Mesmo numa terra inóspita e, por isso, pobre como a nossa e em que a maior parte da população tem mais do que se preocupar (sobreviver) em vez de proteger a natureza como missão, sempre achei que seria muito mais fácil agir, uma vez que sendo alguns desses locais pouco conhecidos ainda estavam a salvo dos 'abutres'...
Espero, pelo que vi (www.areasprotegidas.cv) e acompanho cá de longe, que esse trabalho esteja a ser bem feito. A bem do nosso futuro, nem que seja por decreto e à custa da nossa liberdade de desfrutar dessas zonas como nossos pais e avós faziam, que se faça então a preservação artificial do que deveria ser feito de forma natural.

Francisco Cardoso

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

O poder da palavra

A notícia que está a 'bombar' nesta pequena ilha turística que é a Madeira é um exemplo de desenvolvimento infra-estrutural, na construção de túneis, pontes e vias rápidas, mas que tal aproveitamento dos fundos europeus acaba por ser um mau exemplo no que toca à repartição equilibrada, sobretudo no apoio ao desenvolvimento sustentado da economia e das empresas.
As palavras ditas por Angela Merkel, chanceler alemã numa conferência com jovens, acabou por cair que nem uma bomba na convicção que muitos madeirenses tinham que tudo o que fora feito nos últimos 25 anos - desde a adesão de Portugal à União Europeia - era vista como exemplar pelos parceiros europeus.
A verdade é que as estradas trazem desenvolvimento, mas numa perspectiva enviesada, uma vez que garantem melhor circulação de bens e pessoas, mas não de forma sustentada quando todas as 'baterias' são apontadas num alvo, a infra-estruturação. E na Madeira, quem a vê hoje e quem a conheceu há 15 e 20 anos, só pode concordar com a nova 'dama de ferro' da Europa.
Como já referi no anterior post, a Madeira devia ser vista como exemplo a seguir no que tem de experiência no âmbito do turismo e da potencialização das suas mais-valias naturais, mas também a não seguir no que de mal foi feito em termos infra-estruturais.
Há dois ou três anos, Egon e Astrid Roes, turistas alemães, foram homenageados pelo Governo da Madeira, pela sua 75.ª visita ao arquipélago. Não são caso único, aliás, é bem frequente este tipo de turistas, repetentes, amantes da Madeira a da sua beleza. Visitam, gostam, regressam, falam bem aos amigos e familiares, que também muitas vezes aceitam o 'convite'. Essa é uma mais-valia que o Turismo da Madeira tem e nem precisou fazer muito, bastou deixar a natureza fazer o seu trabalho e o saber receber das suas gentes fazer o resto.
Mas há sempre um senão. A imagem que acompanha este texto foi tirada há cerca de dois anos, numa das zonas mais turísticas do Funchal, capital da Madeira, e por sinal uma das melhor infra-estruturadas, com tudo o que o urbanismo exige em termos de canalização dos esgotos, escoamento de águas residuais e pluviais... e ao nível das estradas, tudo alcatroado, zonas ajardinadas, passeios para peões, estradas relativamente largas, iluminação, sinalização vertical e horizontal, etc, etc.
Pelo menos era o que parecia. A verdade é que no dia 20 de Fevereiro de 2010 esta zona ficou assim. E nem foi das mais afectadas do Funchal, pois não fica no centro, que foi globalmente devastada pela água das chuvas e pela 'revolta' das ribeiras.
Dizem os entendidos, geógrafos, urbanistas, arquitectos, engenheiros, ambientalistas e afins que tudo deveu-se ao excesso de construção, sobretudo a subterrânea que estrangulou muitos cursos de água que a natureza, ao longo de séculos e milénios, foi criando. É claro que há outras vozes que dizem o contrário, que são causas cíclicas.
Ou seja, a meu ver, a intervenção do homem, uma vez mais, foi o causadora de estragos inimagináveis no dia anterior... 42 mortos, oito desaparecidos, feridos às dezenas, desalojados às centenas, prejuízos materiais aos milhões de euros, e anos de desenvolvimento, cuja única sustentação foi mesmo a falsa sensação de desenvolvimento, deitados literalmente ao mar.
O que se tem assistido em Cabo Verde nos últimos anos tem sido algo muito interessante, mas muito perigoso se não acompanhado pelos exigentes e custosos estudos de impacte ambiental. Não faltam exemplos por este mundo fora de projectos sem estes estudos, que os investidores tanto detestam, os políticos fazem-se esquecidos e, no final, o povo acaba por sofrer as consequências... muitas vezes com a própria vida!
Cabo Verde pode ter muito a aprender com os erros e todos os maus exemplos. Mas se, tal como em muitos outros casos, quem tem o poder não tomar a opção certa de defender o bem público, mais tarde ou mais cedo é o povo que acaba por sofrer as consequências. E, em último caso, a economia é que retrocede anos por causa das más opções.
Voltando ao princípio, a chanceler alemã parece ter sido mal traduzida. Até foi chamada de "ignorante". O que parecia ser uma crítica à opção de construir sem olhar ao equilíbrio com o apoio ao tecido empresarial, afinal foi um exemplo dado para lembrar aos jovens, ao futuro, que por mais infra-estruturas que se criem há que olhar a todos os sectores para que o crescimento sustentável da economia seja uma realidade. E se, por um infeliz acaso (da natureza, por exemplo) algo correr mal com um sector (o turismo, por exemplo), os outros que foram acautelados e desenvolvidos ao mesmo ritmo, saberão responder e alavancar um país, uma região, uma ilha, uma cidade, uma comunidade...
É este o exemplo que o poder da palavra da 'Senhora Europa' quis ensinar, não só aos jovens alemães, como europeus, aos portugueses, madeirenses... e até cabo-verdianos, se estes quiserem aprender. Não há futuro possível sem desenvolvimento sustentável.

Francisco Cardoso

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Exemplos a (não) seguir

Quando somos meninos, os nossos pais têm a obrigação de nos fazer ver e mostrar que há formas de vida e de vivência que não são exemplos a seguir por ninguém. Também devem nos ensinar quais os bons exemplos. Assim se faz uma boa educação parental, entre outros ensinamentos, para que em adultos sejamos pessoas bem formadas e de valores.
Esta ideia moralizadora vem a propósito do que Cabo Verde e as entidades que supervisionam o investimento externo, sobretudo na área do Turismo, podem aprender com os maus exemplos que proliferam por esse mundo fora no que toca a um desenvolvimento sustentável deste sector tão crucial como frágil para o futuro do nosso País. Há por esse mundo fora muitos exemplos, maus exemplos, e até bons exemplos de recuperação, após más políticas do passado.
O exemplo que nos pode ensinar vem de ilhas, bem mais avançadas nesta indústria do Turismo, aliás com várias décadas de experiência e bem perto de nós. O caso do arquipélago da Madeira, as duas ilhas habitadas (Madeira e Porto Santo) e os dois grupos de pequenas ilhas, denominadas Desertas e Selvagens.
Os bons exemplos que as autoridades madeirenses deram no passado já têm ‘barbas’ e estão bem cimentadas, nomeadamente na protecção dos frágeis ecossistemas das Ilhas Desertas e das Ilhas Selvagens. São raros os visitantes, há sempre vigilantes da natureza ali posicionados e a monitorização das espécies endémicas é constante. São autênticos santuários naturais, desde sempre alvo de cobiça, até hoje a salvo a muito custo.
Também nas duas ilhas habitadas trabalha-se muito na tentativa de deixar ao máximo algum território fora do alcance da civilização. Mas, como é óbvio, torna-se muito mais difícil, sobretudo porque o Turismo é a principal fonte de receita de um arquipélago que pouco mais tem a oferecer aos visitantes que a sua beleza natural.
A verdade é que para beneficiar do Turismo é preciso investir em infra-estruturas rodoviárias, portuárias e aeronáuticas, é preciso depois erigir unidades de turismo para receber condignamente os visitantes e se forem em grande número, mais unidades e cada vez maiores serão necessárias para os albergar. Aí é que reside o erro de muitos políticos e políticas (ou falta delas) de desenvolvimento sustentável.
Em muitos territórios, de facto, não faltam exemplos muito maus, dramáticos hoje, trágicos para o futuro. Constrói-se com expectativas demasiado altas, o dinheiro abunda quando é preciso construir em grande e, muitas vezes, fecha-se os olhos aos estudos de impacte ambiental.
Ora, olhando o exemplo da Madeira e do Porto Santo, em 2008, ano em que o Turismo ainda estava em crescendo de optimismo e os investimentos continuavam em grande, havia 331 empreendimentos, esperava-se alcançar as 32.869 camas (quase mais 3 mil que em 2007) e bem perto de alcançar o ‘limite’ previsto no Plano de Ordenamento Turístico (POT) de 35 mil camas em toda o arquipélago. Um sector que, na altura e ainda hoje, representava 20 a 40 por cento do Produto Interno Bruto da Madeira e dava trabalho directo a 15 por cento dos madeirenses, cerca de 6.618 funcionários.
Passaram-se três anos e tudo mudou, há obras paradas, há novos hotéis à espera de ‘bons ventos’ e outros que deveriam ser remodelados e estão fechados, as receitas baixam, o número de turistas também, gastos e tempo de estadia idem, as empresas que estão à volta deste sector passam um mau bocado e, pior, os trabalhadores começam a sentir na pele o problema, com salários em atraso e desemprego. E tudo isto porquê?
Porque planeou-se e executou-se, mas como se diz no ditado popular houve “mais olhos que barriga”. A Madeira tem uma imagem de “natureza, clima, beleza, cultura, segurança e hospitalidade”. Mesmo assim, os factores externos e internos motivam a um repensar e reformular dos objectivos.
Resta dizer que, estando Cabo Verde ainda com uma indústria do Turismo a crescer, com as massas cada vez mais interessadas, dever-se-á olhar para os outros e não “ir com muita sede ao pote”. Enquanto é tempo de aprender e não errar.

Francisco Cardoso

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